quarta-feira, 2 de maio de 2007

As vezes sabe bem falar de coisas diferentes... aqui vai...



O Têpluquê

Era uma vez um menino que tinha um defeito de pronúncia. Não era capaz de dizer t. Trocava o têpluquê. Em vez de dizer tasa, como toda a gente, dizia casa; em vez de dizer tão dizia cão; em vez de dizer tapete dizia carpete (às vezes deixava uns tês para trás, deixava uns quês para crás ). E assim por diante: em vez de dizer tábua, dizia cábula; em vez de dizer tu dizia (rabo); em vez de dizer Tomé dizia Come; em vez de dizer taxímetro dizia caxímetro, etc (em vez de dizer etc. dizia ecc.)

Esta história (em vez de dizer esta história, dizia esca escória ) tem uma moral, é das que têm: é que todos os defeitos de pronúncia ( como os outros defeitos todos, há uma história para cada defeito) têm também virtudes de pronúncia, senão eram defeitos perfeitos. Ao menino, como a toda a gente que tem defeitos de pronúncia, ENTARAMELAVA-SE-LHE a língua; este menino tinha sorte porque, como as letras do defeito dele eram o pelo quê, a língua ENCARAMELAVA-SE-LHE e o menino gostava muito (goscava muico)

O Têpluquê E Outras Histórias de Manuel António Pina, ed. Afrontamento

1 comentário:

Carla Dias disse...

Gostei muico da hiscória! Muico engraçada, fez-me rir e sorrir!

O blog o GAE escá cada vez melhor! =)